28 de fevereiro de 2008

Num só abraço



A primeira coisa que veio à sua memória foi uma lareira. Apesar da recordação ter durado alguns minutos longínquos ela não supôs que sua cabeça fosse boa. Era, tanto quanto ela podia imaginar, bastante ordinária. De qualquer modo, sendo ou não sendo banal, naquele pouquíssimo tempo ela havia se lembrado de coisas que em épocas normais levar-se-iam, no mínimo, três dias para que tudo se colocasse naquela ordem. Como disse, lembrou-se da lareira e de um pouco mais e danou-se a chorar. Topetuda que só vendo, ela conservou-se grande e incógnita. Seu chororô durou bem pouco. Foi o tempo que sua primeira lágrima levou até cair ao chão e sumir. E não foi para tanto. Dentro de toda aquela grande dor não existia som de pancadas, tiros, pragas nem de tilintar de esporas. Era um medo meio besta. Um medinho, que segundo ela, vinha lá da alma, de um canto da alma, talvez. Era receio de começar de novo. Zangava-se ao perceber que até quando dormia ele aparecia de um jeito ou de outro. E quando já era dia, zangava-se ainda mais quando percebia que lá estavam os devaneios de quem inda lembra, de quem inda tem apreço e de quem inda gosta demais. Do seu azedume até ela já devia estar farta. Mais ainda empanzinada de sorrisos amarelos e dias de nenhuma cor. Era coisa só dela, ninguém era capaz de ver, muito menos de sentir. De toda história, confesso, não sei. Só me disseram que dia desses o amor dela voltou. Voltou porque nela havia pedaços dele próprio. Penso que devem estar encolhidos um no abraço do outro, misturados num só corpo, vivendo felizes, em clemência àqueles que nunca tiveram um grande amor.


4 comentários:

Chico Mendonça disse...

Renatinha, querida, foi uma surpresa e um grande prazer deparar com um texto de tão boa qualidade, tão bonito. Fico ainda mais satisfeito de poder conviver com vc. Agora, além do Rafa, terei outro blog delicioso para visitar ao fim da tarde. Parabéns!!

Chico Mendonça

Anônimo disse...

Lindos! Você, o blog e o texto. Parabéns!!!

Anônimo disse...

Eu adoro seu jeito de contar qualquer coisa que seja. Acompanhei todos os outros blogs e a esse vida muito mais longa.

amanda.monteiro disse...

Peraí um instante que estou me recompondo com tantos elogios que me fizeste há pouco!
(um suspiro profundo) Pronto!
Sério, Renata! Quando a gente cria um espaço como o blog não imagina quantas pessoas vai contagiar e nem contas novas companhias diárias e fofas vai ter. E conto que estou cheia de boas surpresas (e desejo o dobro delas pra vc)mas que o seu comentário foi mesmo muito doce.
Um abraço bem enlaçado em vc e na Ray.

Amanda