O novo filme da diretora Laís Bodanzky,
Chega de Saudade, certamente deve estar colhendo vários elogios nessa sua recente temporada de lançamento. Além do roteiro de Luiz Bolognesi muito bem alinhado, a fotografia do mestre
Walter Carvalho desconcerta. Mestre como a poucos pode-se conceder essa façanha. Muito mais do que um bom artifício técnico, a fotografia de Carvalho no segundo longa de Bodanzky (o primeiro foi “Bicho de Sete Cabeças”), se apresenta como personagem. E sua boa interpretação, mais os rodopios da câmera, redefinem por completo o que poderia ser ‘simplesmente’ um bom filme. Mais do que isso, é uma verdadeira ode ao empenho, ousadia, labuta, risco, paixão pelo cinema!
A diretora, quando participou da pré-estréia em Belo Horizonte, dentro da programação do projeto
Sempre Um Papo, disse aos espectadores que parir aquele filme havia lhe custado noites longas de insônia. E perguntada sobre a diferença do “Chega de Saudade” e “Bicho de Sete Cabeças”, ela foi enfática: “Por incrível que pareça, Chega de Saudade foi muito mais difícil de fazer. A relação entre os personagens é muito mais complexa, sem contar a própria dinâmica do filme.” Imagino que não tenha sido mais difícil, porque Laís, com calibre para isso, se cercou de gente boa demais. Além de Carvalho e Bolognesi, estão Paulo Sacramento na montagem, Marcos Pedroso na direção de arte, BiD na trilha sonora (uma delícia!), Caio e Fabiano Gullane na produção, dentre outros.
Os personagens, vibrantes até quando quietos, parecem se valer da máxima de que a vida é agora. Todos, exatamente todos, querendo tirar uma casquinha do tempo presente. Para tanto, emoções à flor do baile, já que toda a história se passa em um numa única noite. Ao som da banda ‘Luar de Prata’, na qual Elza Soares e Marku Ribas são os
crooners, Tônia Carrero, Leonardo Villar, Cássia Kiss, Stephan Nercessian, Betty Faria, Mirian Melher, Maria Flor, Paulo Vilhena, dentre outros, sacaram que os personagens a que dão vida não estão ali por acaso. Afinal, é melhor ir além, ainda que em uma noite apenas.
Assim como fizeram os últimos longas sanguinários do cinema nacional, espero que “Chega de Saudade” possa levar milhares de pessoas às salas de cinema. Além disso, que a nova obra de Laís possa incitar a discussão de que, ao contrário do que ainda se diz, nosso cinema há tempos atravessou as fronteiras da Cidade de Deus.