21 de abril de 2008

‘Comida di Buteco’



Inevitável, belo-horizontina da gema que sou, não passar ilesa pela 9ª temporada comida di buteco, iniciada no último dia 11 na capital mineira. Apreciadora voraz de cachaças e tira-gostos incendiários, escolher o boteco da vez, em meio a uma lista de 41, e correr contra o tempo e o fígado pra dar conta de todos (ou boa parte!) serão meus melhores passatempos nos meses de abril e maio. Entre um e outro ‘arremesso de palitinho’ e ‘levantamento de copo’, bom mesmo é celebrar o que quer que seja. Com direito a pratos pra lá de criativos, cerveja gelada, música de primeira e prosas, ao gosto do cliente, a velha máxima de que “ninguém faz amigos numa leiteria” cai aqui como uma luva. Absolutamente imperdível.


Algumas sugestões:

Bar do Careca

Rua Simão Tamm, 395, Cachoeirinha / (31) 3421-3655
SURPRESA DO CARECA: dobradinha à milanesa com mini batatas fritas no bacon e molho especial da casa.

Bar do Doca
Rua Américo Macedo, 645, Gutierrez / (31) 3291-6594
MOQUECA DE CARNE-DE-SOL: medalhão de carne de sol recheado com queijo coalho e banana, mergulhados no molho, com palmito de pupunha e pimenta biquinho. Acompanha farofa de torresmo.

Bar Temático
Rua Perite, 187, Santa Tereza / (31) 3463-7852
COM A MÃO NO RABO DOCE: rabada assada no bafo, servida com batata doce e agrião.


E você? Já foi a um dos bares?
[Imagem do prato "com a mão no rabo doce", do Bar Temático.
Fonte: Site oficial do Comida di Buteco.]


Amor aos livros e à São Jorge



“Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem.” (Jorge Ben em Jorge de Capadócia / Disco Solta o Pavão, 1975)

Dia 23 de abril, dia de São Jorge e dia mundial do livro, é a data escolhida pelo Sempre Um Papo há 12 anos, para celebrar o amor ao livro e à literatura. Inspirado na tradicional festa catalã, o projeto apresenta na próxima quarta-feira em Belo Horizonte uma extensa programação cultural, toda ela com entrada franca. Em moldes brasileiros e espanhóis, a colorida Praça da Liberdade, onde inclusive estão expostas algumas das belíssimas esculturas de Amilcar de Castro, empresta seu cenário para uma celebração que une arte, diversidade cultural e, porque não, generosidade.

As referências à literatura no dia 23 são inúmeras. Marca, curiosamente, o nascimento e a morte de William Shakespeare (1564-1616); o falecimento de Miguel de Cervantes, autor célebre de “Dom Quixote de La Mancha”; o “Dia do Livro” em diversos países do mundo e, dentre outros, o “Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor”, declarado pela Unesco em 1995. Juntando a tudo isso um ano de 2008 repleto de comemorações tupiniquins, dentre as quais, os 50 anos da bossa nova, está armada, para o bem de todos os credos, a Festa São Jorge de Livros e Rosas.

Enquanto os participantes trocam livros novos e usados por rosas, os quais serão doados para oito bibliotecas comunitárias de Minas, a “Corporação Musical Santa Cecília”, banda de Barão de Cocais, anima a festa, a partir das 18h, com um amplo e irreverente repertório que passa pela bossa nova e samba até o tipicamente brasileiro forró. Monitores e alunos do “Espaço Dança”, além de rodopiarem pela Praça, também vão ensinar os passos. Às 20h, a “Cia. de Dança Flamenca Los Del Rocío” celebra a cultura espanhola mostrando um dos seus grandes ícones, a dança. Durante o evento, os atores Júlio Vianna e Reginaldo Santos, integrantes do “Grupo de Teatro 4comPalito”, em cartaz no Teatro Francisco Nunes com a peça Quixote, encenam uma performance cheia de surpresas.

Em tempos de políticas controversas, celebrar a arte catalã em terra verde-amarela é um ato, em primeiro lugar, de etérea elegância. Salve Guerreiro Jorge.


Festa São Jorge de Livros e Rosas
23/04/2008, quarta-feira, entre 18 e 21h
Praça da Liberdade (s/n – Funcionários)
Mais informações: (31) 3261-1501

6 de abril de 2008

Fragmentos de uma passagem primorosa



Esticando a onda de bons encontros, descobri no final do mês passado no ateliê do artista plástico Sergio Fabris em São Paulo, uma das vozes femininas mais instigantes, que é para não parar apenas no "bela" e "forte". Desde Mônica Salmaso, em um show no final de 2006 no SESC Vila Mariana, também na capital paulista, que eu não era apresentada a uma interpretação tão comovente. Uma cantora com conhecimento, musicalidade, interpretação segura e maturidade técnica surpreendentes tem mesmo é de cantar. Para a glória de quem já a tinha visto soltar a voz nos anos 80 foi o que a belo-horizontina Gisella decidiu fazer em 2003, numa retomada corajosa, depois de mais de uma década distante dos palcos.

Hoje, inteira, como ela mesma se define, sua transição do mundo corporativo para o mundo da música, não por acaso, atende pelo nome de "Passagem", seu CD que de 'capricho da sorte' não tem nada. Ao contrário, uma reunião bem feita de gente muitíssimo especial, leiam-se, dentre outros acertos, os compositores e uma banda, composta por Wagner Tiso (piano, acordeom e, há de se dizer, arranjos e regência), Celso Moreira (violão), Zeca Assumpção (contrabaixo), Robertinho Silva (bateria e percussão) e participações de Victor Biglione (violão de aço) e Zé Renato, que canta em 'Lira do bem querer', de Celso Moreira e Murilo Antunes.

O trabalho, no qual inclusive há muito do "Clube da Esquina", embora quase todas as músicas sejam inéditas, é um convite 'simplesmente simples' para além das próprias melodias, facetas, cores, nuanças, climas e letras. No compasso do trabalho árduo, mas também das eventuais surpresas ('... E a Gente Sonhando', segunda composição de Milton Nascimento, gravada somente pelo grupo Tempo Trio, em versão instrumental, e por Alaíde Costa foi uma sugestão do próprio Bituca para a cantora), Gisella, mais do que nunca, está muito certa de que 'ainda temos tempo'. O resultado é tão adequado quanto o nome dela na história da MPB.


Repertório de Passagem:

01. AZUL DE PASSAGEM (Flávio Henrique / Márcio Borges)
02. CAPRICHO DA SORTE (Sérgio Santos / Murilo Antunes)
03. OS CAFEZAIS SEM FIM (Wagner Tiso / Fernando Brant)
04. CANTO DE DESALENTO (Toninho Horta / Rubens Théo)
05. CHORO PRA ALICE (Celso Moreira / Fernando Brant)
06. BIROMES Y SERVILLETAS (Guardanapos de papel) (Leo Masliah / versão: Carlos Sandroni)
07. AINDA TEMOS TEMPO (Renato Motha / Malluh Praxedes)
08. CONTOS DA LUA VAGA (Beto Guedes / Márcio Borges)
09. MARACANÃ (Tavinho Moura)
10. LIRA DO BEM QUERER (Celso Moreira / Murilo Antunes)
11. SIMPLESMENTE SIMPLES (Ladston do Nascimento / Antônio Martins)
12. ISADORA (Manoel Musa / Antônio Martins)
13. ...E A GENTE SONHANDO (Milton Nascimento)
[Foto: Graziella Widman]

3 de abril de 2008

Muito além do amor



Numa segunda-feira. Ela, uma morena de olhos envolventes, desses que acariciam ternamente sem reserva, lábios inquietos, ventre bem feito e corpo aceso. Ele, um homem de cuja estampa era incomum e os sorrisos demasiados. Ao se aproximarem, numa seqüência em que os sentimentos pareciam estar estupidamente em câmera lenta, voltaram-se um para o outro como se aquela cena fosse fruto de uma imaginação imprudente, um lapso irremediável. Eles se olhavam, como a propor que a intimidade afastada jamais havia sido perdida. Miraram-se como se aquele encontro fosse uma representação de todos os incontáveis encontros que não existiram nos últimos catorze meses. Passou-se, num instante pequeníssimo, muito de uma vida que deixara de ser. A diplomacia pregada ali, inclusive, era um instrumento de defesa, uma pura e ingênua encenação.

Ele quis conferir um tom pessoal à conversa tímida que se estendia. Ela, por sua vez, não seguia adiante da forma que sua vontade, em outras ocasiões, atribuiria. E embora gestos simpáticos lhe fossem peculiares, pouco mais de meia dúzia de palavras eram ditas com certa naturalidade. Nada, porém, poderia evitar a reincidência daquela ordem várias vezes contada em tantas histórias. Viu-a assim, real e próxima, e embaralhada com tanto silêncio. Não havia nada a fazer a não ser aguardar pela espontaneidade que sempre favorece àqueles que amam sem pudor. Seus olhares pareciam, propositalmente, paralisados numa direção em que cruzá-los não seria possível. Em pouco tempo, pois o fato de saberem-se ali lado a lado levavam-nos para o caminho menos equívoco. Sabiam também que todo aquele controle, em segundos, seria posto à prova.

Foi, então, que em pouquíssimos minutos, ele voltou-se para ela e acariciou suavemente seus cabelos negros, que estão sempre a balançar para todos os lados. Sua boca busca seu ouvido para um pequeno segredo. Enquanto ela encaixa o pescoço e repousa seu rosto sobre o ombro dele. Procuraram certamente por outros ombros, mas aquele longo e meticuloso abraço de ternura não enganava nem o mais distraído. Os joelhos a se tocarem e os olhares a percorrerem vagarosamente as expressões, suspeitíssimos de que ali estavam os mais sinceros carinhos. E quando se olharam nos olhos da forma mais intensa, refletiram cada um consigo que eram exatamente aquilo que pensavam um do outro quando o amor se confirmou pela primeira vez.

De repente, com o hálito de vinho francês, que por sua vez sobreleva e exulta, eles se movimentam, se misturam, se confundem, se entregam à ardência e explosão do corpo que voraz ganha som, descem-lhe às entranhas, penetram-lhe os ossos e inundam-lhe por completo. Fecham os olhos como se pudessem prolongar a sensação de prazer, de encanto, de deleite. Era aquela sua amada. Era ele por quem esperara desde sempre. Estavam ali as formas recriadas e ligadas pelo limite inexistente.

Deles restava apenas o eterno grito (...)

[Foto: gettyimages]

1 de abril de 2008

Mondolivro, o Blog Sonoro da Literatura


A idéia é gostosa. Um blog sonoro, no qual assuntos relacionados com o mundo do livro são notícia. No ar há pouco mais de uma semana pela Rádio Guarani, o "Mondolivro", concebido e produzido por Afonso Borges, criador do "Sempre Um Papo", considerado um dos maiores projetos de incentivo à leitura do país, surgiu de um desejo antigo de Borges de levar para o rádio histórias divertidas e criativas sobre o universo literário.

Desmistificar a literatura e levá-la para muito mais perto do público é o que tem feito Afonso há mais de 22 anos. O "Mondolivro", que conta com o patrocínio da Patrimar, dona da idéia precursora de construir bibliotecas em prédios residenciais, é a mais nova ação nesse sentido.

Uma sugestão de leitura. Festivais literários pelo Brasil e mundo, feiras do livro, salões, bienais. Notícias em primeira mão sobre autores, seus novos livros, o que estão fazendo, onde e porquê. Histórias curtas, casos sobre livros e escritores. Curiosidades envolvendo o livro e a transversalidade com outras artes – cinema, teatro, música, artes plásticas. Tudo isso, e mais o que der na telha, é o que tem contado Afonso Borges aos ouvintes, diariamente, na Rádio Guarani de Minas Gerais (96,5), às 9h10 e 18h30. Ouça aqui duas edições do Mondolivro.