
Estou com certo receio de soar piegas, numa espécie de era-bom-ser-criança. Não apenas por falar de amor, mas por se tratar de algo ainda em suspense, ainda por acontecer, ainda em... Perdão! Quero dizer, estou com medo de soar cafona. Cafona? Que palavra mais antiga! Talvez mais estranha do que antiga. Acordei que sonhava e sonhava que tudo ficava muito melhor quando estamos na fase apaixonada e apaixonante de enviar girassóis, sonetos de Vinicius e coisas gastas, mas inéditas por um momento. Quero dizer, imagens já tão usadas pelo imaginário romântico, piegas e cafona, com um orgulho que só ele entende. Ele? Sim, o imaginário.
Mas a verdade é que sempre que dou festas para alguém dentro de mim, sinto-me liberta e emancipada de sentimentos caóticos. E aí penso: eu queria arrumar a casa antes de um novo amor chegar. Pintar algumas paredes. Mudar os quadros de lugar e comprar aquele lindo que fez aniversário num antiquário perto de casa. Forrar o sofá com uma capa azul escura. Trocar de lugar a cadeira antiga que fora dada pela bisavó portuguesa, pouco antes de morrer. Comprar móveis novos para cantos tristes e vazios. Lírios ou gérberas? Talvez orquídeas brancas. Ah, é verdade! Preciso comprar taças. Sim, elas são importantes nessas ocasiões em que a alma resolve festejar. Que elas sejam de um fino cristal ou um vidro igualmente fino que o imite, se possível. Novas opções de entrada, prato principal e sobremesa são importantes. Vinho! Claro, um bom vinho é imprescindível. Um gole após aquele silêncio estridente não seria um exagero? Ou seria apenas insegurança? Guarde um pouco para o estalar daquele segredo que obviamente nunca foi segredo.
- E você nem desconfiava?
- Não.
- Não?
- Não!
- Ah...
A campainha tocou (...)